domingo, abril 10, 2016

Sobre o limite de dados na internet fixa

Colocar um limite de dados na internet fixa irá impactar em como consumimos a internet hoje. Segundo o Olhar Digital, com 2 episódios da Netflix de 50 minutos cada, ao fim do mês o consumo será de 180 GB. Agora acrescente os celulares da casa nas redes sociais, as fotos dos amigos no Facebook, aquele live tweeting assistindo ao Masterchef, os vídeos e gifs do twitter, as fotos de snapchat, as atualizações obrigatórias de aplicativos, seus jogos online. Quanto você acha que consome por mês de internet? Fez as contas? Agora, a notícia: o maior plano de dados oferecido é de 130GB por mês. O que você terá que deixar de fazer online todos os meses?

Não só mudaremos o uso da Netflix em casa. Será o fim de maratonas aos fins de semana e daquela soneca enquanto passava o filme. Torrents e downloads também sofrerão (embora ninguém possa admitir que baixe coisas na internet) e outros streamings de vídeos (embora ninguém possa admitir que assista àqueles tipos de vídeos mais adultos)
Spotify, Superplayer, Hangouts e Periscope também sofrerão muito, já que streaming se tornará quase um palavrão.

Será muito ruim também para todos os blogueiros e podcasters que se sustentam vendendo entretenimento online. Canais gigantes do Youtube como o Porta dos Fundos e muitos vloggers perderão muito de sua audiência. Além de que, muitos canais pequenos podem sumir, por conta do gasto de dados no upload de vídeos.

Como o Itaú poderá dizer que é digitau se poucos irão querer perder tempo digitando um código de barra gigantesco para pagar uma conta? Internet Banking sairá da rotina do brasileiro comum. Lojas online também perderão clientes. Quanto tempo (e dados) se gasta navegando nas páginas até encontrar algo que queira e ainda ter que preencher o cadastro para efetuar a compra? Diga adeus para as horas navegando no Submarino ou na Saraiva buscando aquele livro legal ou aquela oferta decente no Mercado Livre.

Os serviços na nuvem podem ser prejudicados, já que levamos um tempo atualizando aquela tabela no Excel online. Redes sociais também sentirão o impacto, e com isso, todo o Marketing Digital. Menor visualização, menor alcance, menos consumidores. A conta é simples.

E claro, há também o E-Sports. Demorou muito tempo, mas finalmente ele estava ganhando cada vez mais espaço na mídia, sendo respeitado e atraindo um grande público. Como jogar e treinar em casa com o consumo limitado? Talvez seja o renascimento das lan houses, já que, por enquanto, esse pacote de franquias não seria aplicado a empresas, somente a pessoas físicas.

O ensino a distância sofrerá bastante também. Os cursos em geral tem vídeos longos, e às vezes há a necessidade de voltar o vídeo até se aprender o que está lá. A maior parte dos brasileiros usa os planos de 1 e 2MB. Esses planos terão algo como 10GB de franquia por mês (!!!). Muitos não poderão migrar para um plano maior de consumo de dados por conta dos preços altos e não vão conseguir estudar como planejado. 

Se o jornalismo impresso estava achando que a internet poderia ser seu fim ou sua salvação, más notícias. Poucos irão querer gastar seus dados lendo algo que poderá passar na TV (e de graça). Foi graças à internet que muitos jornalistas e estudantes puderam trabalhar de verdade, expondo os fatos sem as distorções das grandes mídias e grandes patrocinadores. Se o brasileiro comum lê pouco, estou certa que esse número irá diminuir ainda mais.

O motivo dessa mudança na forma de vender o uso da internet é óbvio. Estamos entre os mais conectados, os mais interessados e participativos na internet mundial. Segundo dados da IAB em 2014, 39% da população passa 20 horas conectados na internet por semana, enquanto a maioria do público da TV, 49% passa entre 3 e 6 horas semanais. Some-se a isso a perda significativa de clientes nas empresas de canais a cabo. A Claro perdeu 650 mil assinantes, Sky quase 200 mil e a Oi perdeu 134 mil assinaturas. Limitando o consumo da internet, tenderemos a voltar para a segunda opção favorita de entretenimento, a TV. 

Por enquanto, essa mudança só é válida para conexões ADSL, as fibras óticas estão livres dessa medida (até quando, é uma boa pergunta). Contra essa ideia, a maior mobilização que eu vi, até agora, é uma petição online para que a Anatel e o Ministério Público proíbam esse plano de entrar em vigor (a Vivo anunciou que os planos atuais serão mantidos até dezembro de 2016). Porém não sei se isso será eficiente o suficiente. Não estou só preocupada com o quanto terei que pagar para usar a internet que uso atualmente. Estou preocupada com essa sensação horrível de todos nós estarmos sendo podados no que podemos usar, aprender e divulgar com a internet.

P.S.: Digo tudo isso porque a minha experiência com franquia de dados móveis é terrível. Tenho que escolher se usarei o whatsapp, o twitter, o uber ou o instagram. Usando um desses já aparece a mensagem de que acabei com a franquia do dia e tenho que gastar mais para continuar usando. Se for para ser como é minha internet no celular, se preparem, porque será horrível.